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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Mesa de Bar


Era mais uma daquelas noites, em um daqueles bares. Uma região antiga da cidade outrora decadente, hoje melhor frequentada por causa dos modismos de momento. Lugar abafado, nenhuma brisa se aventurava a dobrar a esquina. A umidade gerava gotículas de suor reluzentes na testa do homem ao meu lado. Mesas de sinuca, fumaça no ar e um característico som intermitente: mais uma bola na caçapa. Ao fundo tocava uma bossa já não tão nova assim. Bebidas nas mesas, umas pra brindar outras pra diluir a dor, na minha só guaraná. Na sobriedade tentava cavar um bom papo ali outro acolá... Perda de tempo. Pensei em desistir. Não conseguia ir além da rodada do futebol do fim de semana e das pernas da vizinha de mesa. Suspirei, mas dessa vez não fora pela vizinha. Passei a observar mais o ambiente na expectativa de não voltar tão vazio pra casa, tentar absorver alguma sensação diferente, mas tudo o que conseguia era a nicotina alheia que pairava densa a minha volta... Perda de tempo, quase desisti. Até que ao fundo do estabelecimento, se equilibrando entre uma mesa e uma cadeira, um homem vertia suas lágrimas, agarrado a sua garrafa que mais parecia ser de estimação. Entre um gole e outro seu copo ia se enchendo de sofrimento. Aquilo prendeu minha atenção enquanto me trazia um certo desconforto. Fiquei por alguns instantes refletindo, não em causas, mas em conseqüências, não no choro, mas na fuga, não na dor, mas na fragilidade. Chamei a atenção de um cidadão próximo. Certamente agora teria um bom assunto a discutir. No calor da prosa não sei por que cargas d’água, ele disse: “homem não chora”. Após alguns segundos o fitando inexpressivamente em profundo silêncio eloquente, finalmente desatei a chorar de tanto rir. “Garçom, aqui nessa mesa de bar, me traga outro guaraná e a conta, antes que eu desfaleça”. No fim das contas, saí do bar e ainda caminhando pelas ruas fiquei a me questionar: minha pena esta noite, a quem devo destinar?

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