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terça-feira, 30 de abril de 2013

Lugar Comum


Apenas mais um dia comum. Avenida Brasil, pista central, sentido centro, engarrafamento desanimador. Apenas mais um trânsito comum.
Eu, do lado oposto, no contra fluxo, como prefiro, acompanho a extensão da tal garrafa, até me deparar com uma motocicleta tombada. A poucos metros, no centro da cena, um corpo jaz no asfalto. Vinte e poucos anos estendidos ali, cabeça pendida pro lado, como se estivesse pesada. Mais uma garrafa cheia dentro do engarrafamento da vida. Cheia de experiências, ansiedades e sonhos; não mais cheia de vida. Garrafas cheias em excesso acabam transbordando.
Ao olhar aquela garrafa presa a um corpo inerte, percebo um líquido sabor vida se esvaindo. O tom rutilante denunciava o caráter recente do fato.
De repente, preto e branco dominam a cena em volta diante dos meus olhos, para em seguida, destacar o líquido escarlate, escoando pelo gargalo. Reluzindo aos primeiros raios de sol da manhã, os últimos para aquele homem.
Apenas mais uma manhã comum. Apenas mais um brasileiro na Brasil. Um brasileiro comum. Neste momento não tenho capacete... Ele também não tinha.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Certeza do Amanhã


            Quem nunca sonhou com a certeza do amanhã? E com ela a possibilidade de viver sem ansiedade, dúvidas, insegurança, medos e outros monstros.
            Ainda muito novo, por um motivo que ainda não sei explicar totalmente, mas que chamaria de fé pueril, eu crescia com a certeza do amanhã. Não com a certeza de coisas, fatos, momentos, decisões e pontos finais, mas com a confiança de que o essencial, aquilo que toca a alma do ser humano, sempre estaria me esperando no amanhã certo.
            Lá se foi um hoje após o outro. Colecionei anos, coisas, fatos, momentos, decisões, pontos finais e muito do que considero essencial. Apesar da alma tantas vezes tocada, curiosamente não me livrei dos monstros. Ironicamente, de tempos em tempos minha certeza do amanhã desvanece. A despeito das lembranças do que tive, aquilo que me falta parece distante. Fico cego para a fonte da vida e me sinto desconectado.
            Saudades do sossego e fluidez da juventude. Saudades de uma época em que podia olhar para o amanhã da rede da varanda, deitado. Sinto falta dos anos em que não precisava subir por horas o cume de uma montanha nevada para encontrar a certeza do amanhã.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Amai-vos uns aos outros


Por que essas máscaras,
Essas capas, essas vendas?
Acaso estamos num baile a fantasia?
Fantasia de nos esconder
Num faz de conta infantil:
"Era uma vez EU",
O muro que me separa de você.
O muro, produto do medo...
Medo de amar.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Abraço


*Poema dedicado a amiga que sofre


Conheço esse lugar
Caminho da dor, da perda
Dor dilacerante, aguda
Grito sufocado, Deus escuta?

Calçado quase sem solado
Guardado no armário
Cajado desgastado.

Hoje observo de fora
Crendo conhecer
As bifurcações de outrora.

Pensei em ser seu guia
Ah que grande utopia!
Pois você sabe minha amiga
A vida não avisa
Sem mais nem menos improvisa.

Você se vê enredada, presa
Nesse caminho descampado
Horizonte nublado
Que sequer escolheu.

A vida dá e tira
É seu sistema
É sobrevida.

Pois sobreviva
E viva!
Não se exaspere com a frustração
O caminho da dor
É pro vencedor
Pra quem tem coração.

Ora, que ilusão
Ser o guia, que pretensão!
Sua dor reflete minha impotência
Pouco posso contra o gigante da existência!

Discursos, teorias
Experiências compartilhadas
Filosofia.
Meros paliativos que se dissolvem
Ao chocarem-se contra o muro da angústia.

Eu sei, eu sinto
Já estive lá
Me identifico
A ferida está sangrando.

Enquanto estiver nesta estrada
Meus braços estarão abertos pra você.






quinta-feira, 4 de abril de 2013

Medo


Foi aquele olhar
Invadiu meus olhos profundos
Ancorou em meu mundo

Olhar que grita em silêncio
Clamando por um abraço
E um tanto mais...

Olhar de pedido
Olhar de medo
Olhar de novo

Que medo é este que te atrai
Que medo é este que faz bem
Medo que contagia

Tenho medo de escrever
Medo de me enganar
Medo por não entender

Medo que termina no abraço
Medo que começa no abraço
Abraço que revela mais do que o medo

Abraço de pedido
Abraço de medo
Abraço de novo

Até que minha mão encontrou a sua
Por um instante o medo se dissipou
Contudo ao ir embora ele voltou

Sei o que há após o olhar
Sei o que há após o abraço
O que será que há depois do medo?





Saudade




Saudade é bem querer
Do coração apertado
Saudade é não te ter
Quando se quer ao lado
Saudade é dor que alimenta
Minha fome de você
Saudade é a paz de te encontrar
Dentro do meu ser
Saudade não é tempo,
É distância
Saudade não é abraço,
É espaço
Saudade é vazio
Que preenche a lembrança
Saudade...
É silêncio.