Apenas mais um dia comum. Avenida Brasil, pista
central, sentido centro, engarrafamento desanimador. Apenas mais um trânsito comum.
Eu, do lado oposto, no contra fluxo, como prefiro,
acompanho a extensão da tal garrafa, até me deparar com uma motocicleta
tombada. A poucos metros, no centro da cena, um corpo jaz no asfalto. Vinte e
poucos anos estendidos ali, cabeça pendida pro lado, como se estivesse pesada.
Mais uma garrafa cheia dentro do engarrafamento da vida. Cheia de experiências,
ansiedades e sonhos; não mais cheia de vida. Garrafas cheias em excesso acabam
transbordando.
Ao olhar aquela garrafa presa a um corpo inerte,
percebo um líquido sabor vida se esvaindo. O tom rutilante denunciava o caráter
recente do fato.
De repente, preto e branco dominam a cena em volta
diante dos meus olhos, para em seguida, destacar o líquido escarlate, escoando
pelo gargalo. Reluzindo aos primeiros raios de sol da manhã, os últimos para
aquele homem.
Apenas mais uma manhã comum. Apenas mais um brasileiro
na Brasil. Um brasileiro comum. Neste momento não tenho capacete... Ele também
não tinha.